Livro da Semana: Memórias do Subsolo

Depois de vários dias mergulhado n’O Livro Com o Ursinho na Capa é bom deixar o seu bebê encarar uma leitura mais leve e casual: sem toda aquela complexidade psicológica, sem o mergulho profundo no inconsciente.

Memórias do Subsolo poderia ser classificado na mesma categoria de “Os Amiguinhos da Floresta”, se “Os Amiguinhos da Floresta” contasse a história de um sapo amargo que despacha críticas ferozes a tudo e a todos, recluso em um subsolo.

Muitos dirão que um bebê não é capaz de compreender o texto de Memórias do Subsolo. Mas lembre-se: estamos falando dessa pessoinha que encontra sentido n’O Livro Com o Ursinho na Capa. Ele certamente pode ler a obra inteira de Dostoiévski no original, enquanto faz cocô.

Se lido com voz suave, Memórias do Subsolo, é uma ótima leitura para fazer o bebê adormecer e sonhar com os anjinhos. É tudo uma questão de entonação. Experimente ler para seu filho ou filha o trecho abaixo, por exemplo, bem baixinho:

“Um homem inteligente do século dezenove precisa e está moralmente obrigado a ser uma criatura eminentemente sem caráter; e uma pessoa de caráter, de ação, deve ser sobretudo limitada.”

Fiódor Dostoiévski, em “Memórias do Subsolo”

Claro que isso não é uma leitura para qualquer fase do bebê. É mais recomendável para aqueles que já passaram da exterogestação. Se o seu neném tem menos de 3 meses, é melhor aguardar que a Editora 34 traduza o livro que Dostoiévski escreveu mais tarde, no cárcere na Sibéria, “Memorinhas do Subsolo Maluco”. É como o texto original, só que com diminutivos e ilustrações bem coloridas.

“Sou um homem doentinho… um homem malvadinho… um hominho desagradável. Creio que estou dodói do fígado.”

Fiódor Doistoiévski, em “Memorinhas do Subsolo Maluco”

Depois desta leitura suave, seu bebê estará pronto para encarar novamente livros mais densos, como “Puxe e Ache – Fazendinha”.

Assinar o blog: Como? Por que?

(Por que, eu não sei. Mas como assinar, posso explicar.)

Mais um que assinou o blog pra saber o que o pai está pensando (foto: Unsplash)

Ainda estou definindo a assiduidade dos textos aqui no blog, mas por enquanto é inconstante como as noites de sono do seu bebê: vem não se sabe quando, não se sabe como, não se sabe por que.

Um dia, eu ajeito isso e vai ser uma coisa mais constante. (Os textos, não o sono.)

Por enquanto, se você quiser saber o que tá acontecendo aqui, aí na barra ao lado (ou lá embaixo, se você está no celular), tem um “assine por email”.

Você coloca o seu email ali e recebe os textos sem sair de casa! Sim! Os textos do blog na comodidade do seu lar!

Assim, pode aparecer na sua caixa de entrada, de surpresa, um texto que traz a reposta definitiva praquele dilema que você está vivendo com a sua cria naquele exato momento. É bastante improvável? É. Quase impossível? Sim. Mas você nunca vai saber se não tentar.

E se você tem um login do WordPress.com, também pode assinar e receber as atualizações do blog na plataforma. Mas sejamos francos: quem diabos tem login do WordPress.com além do cara que escreve o próprio blog?

Enfim: assina lá. Eu assinei e recomendo.

As Crises do Bebê – Dentinhos Nascendo

Bebês passam por algumas crises ao longo do seu desenvolvimento: as tradicionais crises dos 3, dos 6, dos 8 e dos 12 meses, mais as crises do 3 meses e um pouquinho, 4 meses mais ou menos, quase 7 meses. Soma aí também outras crises como: dente nascendo, reação a vacina e a famosa Crise do Que Legal Um Fio Preciso Morder.

(Considere que o bebê vai ter 20 dentes de leite. Só de dente nascendo já dá um baita tempo de crise.)

Bebê com os dentinhos nascendo (foto: Unsplash)

Vai seguindo assim durante um tempo (a crise da pré-adolescência, a crise da adolescência, a crise do vestibular, a crise do Entrei Na Faculdade Errada, a crise do Tô Estagiando Quase de Graça), até um pouco depois que o seu bebê finalmente encontra um emprego decente – e aí as crises ainda existem, mas são problema dele.

Isso dá quantos dias sem crise?

A revolucionária proposta d’O Progenitor Moderno é, no lugar de falar das crises, definir os momentos de calmaria. Assim, você abraça o caos e não entra em pânico. Além do mais, fica muito mais fácil que sair inventando um monte de nome pra cada crise.

Mas enquanto ninguém chega com essa solução, vamos falar de cada uma das crises. Hoje é dia de:

Dentinhos Nascendo

Tem quem não ache fofo aquele neném com dois dentinhos nascendo na genviva embaixo? Tem: o próprio neném.

Você já extraiu um ciso? É chato pra cacete. Agora imagina o ciso tentando se extrair sozinho, rasgando a sua gengiva lentamente, sem anestesia, nem um dentista puxando papo pra te distrair na hora. O dente de leite nascendo deve ser mais ou menos isso.

É claro que o bebê fica meio irritado. Ele fica até pouco irritado. Se fosse com você, você sairia chutando velhinhos na rua, só pra descarregar. Como o bebê ainda não consegue sair na rua pra chutar velhinhos, só lhe resta resmungar um pouco e ficar acordando a noite toda.

E considere que são 20 dentes de leite pra nascer. A não ser que você more ao lado de um bingo clandestino, na sua rua nem teria velhinho o suficiente pra você chutar.

COMO AGIR

Da próxima vez que você ver um bebê com dois dentinhos nascendo embaixo, não diga “que bonitinho!”. A falta de solidariedade pode irritá-lo ainda mais e ele vai ter que descontar nos pais, acordando a cada 20 minutos à noite.

A reação certa é bater de leve com o punho fechado da mão direita no seu próprio peito e dizer: “Dureza, cara… Tamo junto.”

Em seguida, esconda todos os cabos de carregador de celular. O bebê agora tem uma habilidade nova, a de destruir fios. E ele vai usar. Ele até poderia usar o dente, por exemplo, pra ajudar você a abrir aquele pacote de amendoim praliné que não abre nem a pau. Mas não: ele tá a fim mesmo é de acabar com a bateria do seu Android.

Por que não fazem mordedores em forma de cabo de celular? (foto: Unsplash)

Prepare-se também para levar mordidas aleatórias, principalmente na mão. Você vai ficar com umas marcas tão profundas que botam em cheque todo esse papo de “dente de leite”. Talvez o nome mais adequado seja “presas”. O negócio é que o bebê tá incomodado e morder alivia – embora nem sempre alivie pra você.

Alguns recursos ajudam. O mais usual é dar uma coisa fria pro bebê morder, como um daqueles mordedores que vão no freezer ou o temperamento do Ivan Drago em Rocky IV. O frio ajuda a anestesiar a dor na gengiva do bebê.

Você pode, por exemplo, colocar a sua mão no congelador. É melhor pra você também, já que o frio vai ajudar a anestesiar a dor na sua mão também.

Sua mão e o bebê (foto: Unsplash)

De resto, não tem lá muito o que fazer.

Os dentes vão nascer necessariamente um dia depois que o bebê resolver a dormir bem – só pra estragar tudo de novo. Quando isso acontecer, fale com o pediatra.

Você, que é um pai consciente e uma boa pessoa, não vai apelar praquele gel anestesiante que faz um mal desgraçado pro bebê. Mas, em último caso, quem sabe, pode ir na rua chutar uns velhinhos pra descarregar.

Testando brinquedos: a Garrafinha de Plástico Maluca da Minalba

Esta semana, testamos um brinquedo incrível, que é sucesso garantido entre as crianças. É a Garrafinha de Plástico Maluca da Minalba.

Mattel? Hasbro? Estrela? Não: Minalba. (foto: Unsplash)

Esqueça aqueles brinquedos meticulosamente pensados para o bebê, com sonzinhos, cores, luzes e galinha pintadinha desenhada. A Garrafinha de Plástico Maluca da Minalba vai se tornar rapidamente o brinquedo preferido do seu filho ou filha.

A Garrafinha de Plástico Maluca da Minalba consiste em uma garrafinha de plástico da Minalba que você apenas renomeou, adicionando o “Maluca” – adjetivo que transforma qualquer coisa em um mundo de diversões!

Ela vem equipada com uma tampinha e um rótulo. A tampinha, o bebê vai se divertir tentando tirar. E o rótulo, ele vai tentar arrancar e comer para se alimentar. São várias atividades em um só brinquedo.

Leve em conta ainda que a Garrafinha de Plástico Maluca da Minalba é sempre um brinquedo novo: ela vai mudando de forma à medida em que o bebê amassa.

Mas o principal é que, além de entreter, a Garrafinha de Plástico Maluca da Minalba é sustentável. É só fazer as contas: aproximadamente 1,12 milhão de garrafas plásticas são jogadas nos oceanos todos os dias. Nascem mais ou menos 392 mil bebês por dia no mundo. Se cada um deles ganhar 2.8 garrafas de plástico no chá de bebê, podemos limpar os mares do planeta.

Poderia estar divertindo a sua filha, mas tá aí, poluindo o planeta (foto: Unsplash)

E se a gente usar, por exemplo, um pacote de pão Pullman vazio para ser a embalagem da Garrafinha de Plástico Maluca da Minalba nas prateleiras da Ri Happy, aí então resolvemos dois problemas de uma só vez.

É só questão de tempo até lançarem a Garrafinha de Plástico Maluca do Gugu.

Livro da Semana: Leãozinho

Diferente do último Livro da Semana, este aqui tem um título, o que já ajuda um pouco. Um título direto e rápido, de uma só palavra que parece dizer do que se trata o livro: Leãozinho. Sem artigo, só “Leãozinho”.

Mas o livro é um grande jogo com o leitor. E o jogo começa pelo título. Parece que vamos conhecer a história deste leãozinho da capa, mas na verdade o livro trata sobre habitação e moradia.

!!!ALERTA DE SPOILER!!!

E, se o Livro com o Ursinho na Capa faz experimentos com o texto, “Leãozinho” se mostra experimental no formato propriamente dito. Ele não tem páginas que podem ser viradas, mas é uma grande tira com frente e verso, dobrada em sanfona, como um folhetão imobiliário:

Analisando o texto, descobrimos que, no final das contas, é sim de um folhetão imobiliário. O livro já abre com uma clássica frase de lançamento de condomínio:

“Lar é onde queremos estar.”

Anônonimo, in “Leãozinho”

Em seguida, desvia um pouco o assunto, falando sobre diferentes personagens (ou perfis de consumidores?), adjetivando cada um deles, às vezes de maneira aleatória. Todos concordamentos que o leão é forte e valente, que o rinoceronte é robusto e que o macaco é alegre enquanto saltita. Mas por que a zebra é curiosa? Por que o elefante está inquieto?

Não poderíamos falar sobre a vaidade da zebra, com sua roupa listrada? Ou a respeito da infalível memória do elefante? Ou será que isso já se parte de pressuposto e eles são os únicos personagens tridimensionais do livro, com personalidades que vão além do óbvio?

Ansioso, você olha o verso do livro, na esperança de encontrar essas respostas. Mas não. O que vemos é apenas uma sequência de clichês de propaganda imobiliária:

Seja na floresta, no bosque ou na savana, sua casa é sempre o melhor lugar!

Anônimo, in “Leãozinho”

E mesmo como folheto de lançamento imobiliário, o livro ainda deixa muito a desejar: qual é a metragem? São quantos quartos? Qual a distância pro aeroporto? Tem portaria do futuro, espaço fitness ou jardim zen no condomínio? Trata-se de uma obra inacabada, como “Sanditon” de Jane Austen, “Verdade ao Amanhecer” de Hemingway e a adaptação para TV de “Brida” exibida na Rede Manchete.

O livro também não se mostra preciso enquanto estudo de zoologia. Ao apertar o elefante, por exemplo, ele faz o som de um apitinho agudo, como de um patinho de borracha, em vez do esperado bramido ou da chamada de contato que tantas vezes já ouvimos nos documentários de Sir David Attenborough.

Por sinal, é o mesmo som que o filhote de rinoceronte faz, quando apertado. Aquele filhote de rinoceronte ali, pendurando por uma espécie de cordão umbilical – talvez simbolizando a eterna conexão entre o filho e mãe? Talvez.

Mas eu não apostaria em nenhum pensamento tão denso vindo de um folheto imobiliário.

Ainda sobre o Livro com o Ursinho na Capa

O nosso livro da semana continua surpreendendo. Não me canso de encontrar significados e pensamentos no sutil texto. Como quem olha o céu noturno em busca daquelas estrelas mais distantes e de misteriosas nebulosas, é preciso aguçar o olhar antes de encher a banheirinha, tomar o livro em mãos e se aventurar em mais uma leitura.

Hoje, foi este trecho que me chamou a atenção:

“Saltar entre árvores é mesmo com o esquilo”

Anônimo

Aqui, o autor ou autora nos joga na cara uma grande verdade, uma barreira intransponível, nos tira da posição de seres dominantes, feitos à imagem e semelhança de Deus. Sim, nós temos limitações.

Já deciframos o DNA. Já enviamos uma sonda para além do sistema solar. Já temos a primeira imagem do horizonte de eventos de um buraco negro. Mas nem pense em saltar entre árvores. Isso é com o esquilo.

Calma. Você ainda tem opção. Se o seu interesse for mesmo saltar, posso sugerir o salto com vara, o salto triplo, ornamental ou mesmo a amarelinha. Mas caso salto entre árvores entre nas olimpíadas ou nas gincanas de colégio, pode ter certeza: o ouro vai para um esquilo.

Encontraremos outro Livro da Semana tão profundo e denso? Jamais.

Discussão literária: sobre o Livro com o Ursinho na Capa

Grandes livros merecem ser relidos de tempos em tempos. Ano sim, ano não, releio A Metamorfose, de Kafa, e reparo em um ou outro detalhe que não havia notado antes.

Não é diferente com o Livro do Ursinho na Capa, do qual falei neste outro texto. Uma obra tão complexa é digna de ser apreciada várias vezes, em todas as suas nuances. E não a cada ano par, mas todas as manhãs, toda vez que você dá banho no bebê.

Você pode ler e reler 365 vezes no ano (366, se for um ano bissexto) e nunca vai conseguir absorver completamente a história.

Digo isso porque na minha resenha do livro, mencionei uma construção que, na minha cabeça, subvertia as regras de pontuação:

Acontece que quando se diz, a respeito do lindo cisne, “muito bem ele sabe nadar”, a mim soava como um elogio, congratulações ao lindo cisne: “Muito bem! Ele sabe nadar!”. E fazia sentido. Afinal, não deixar de ser um feito relevante um bicho que voa aprender também a nadar. A maioria das pessoas que eu conheço consegue fazer, no máximo, uma dessas duas coisas.

Eu havia imaginado, então, que a falta da pontuação adequada entre “muito bem” e “ele sabe nadar” seria mais uma ousadia, um experimentalismo do autor ou da autora.

No entanto, agora entendo esta passagem de maneira diferente. A construção também pode ser interpretada como “ele sabe nadar muito bem”, apenas invertendo a ordem das palavras para a rima funcionar – recurso, como já dito aqui, muito usado por nomes como Osório Duque-Estrada, Augusto dos Anjos e Latino.

Talvez as duas maneiras de ler estejam corretas. Ou talvez ainda exista uma terceira interpretação para o texto, que muda completamente o sentido da história.

Nunca saberemos, já que o autor ou autora não se identifica e, portanto, não podemos encontrar seu e-mail do BOL.

Enfim, deixo aqui uma citação:

“Algo é uma obra de arte por ser o correlato de uma interpretação, inscrita em uma rede de significações históricas, teóricas e sociais, que lhe atribui o estatuto de obra de arte.”

Arthur Danto, filósofo e crítico de arte

E o Livro com o Ursinho na Capa, sem dúvida, é uma obra de arte.

Como fazer o bebê dormir a noite inteira?

(É sério, gente. Quem souber, me conta.)

Claramente, uma fotomontagem (foto: unsplash)

A questão toda não é como fazer para o neném dormir a noite inteira, mas sim como fazer para os pais dormirem a noite inteira. Se o bebê passasse a madrugada jogando PlayStation, tudo bem. O problema é o choro que, além de partir o coração, acorda a casa inteira.

Nesta série, vamos abordar algumas técnicas muito recomendadas por especialistas e estudiosos – o que não significa, em absoluto, que funcionem.

PARTE 1 – O RUÍDO BRANCO

Existem muitos aplicativos e faixas no Spotify que reproduzem algum tipo de ruído branco que, em tese, ajuda o bebê a dormir. A equipe do blog (eu e a minha mulher) já testou vários sons diferentes. Seguem aqui as avaliações de alguns deles.

SOM DE FLORESTA:

A floresta é um ambiente inóspito, com animais peçonhentos, insetos perigosos e até mesmo plantas que podem te matar. Sempre que eu ouço o som de floresta, lembro que por trás daquele cricrilar de grilos e do canto dos passarinhos noturnos, pode estar uma onça pronta para atacar ou uma víbora de presas afiadas querendo defender seu território. O vento que acaricia as folhas das árvores pode muito bem jogar em cima da gente uma aranha peluda e estressada.

É impossível relaxar e dormir diante de um cenário desses. Em termos de ruído branco, mais vale derrubar essa floresta e deixar o previsível som de um estacionamento todo asfaltado.

Legalzão dormir na floresta, hein? (foto: unsplash)

SOM DE MAR:

A primeira coisa a se levar em consideração é que o usual é usar um celular velho, que fica no quarto do bebê, para reproduzir o som. O celular velho tem necessariamente um som metálico, com poucos graves. Esse som atravessa pelo microfone da câmera da babá eletrônica, que também capta um som metálico, com poucos graves. E sai pelo alto falante da base da babá eletrônica, que por sua vez tem um som metálico com poucos graves.

O resultado é que o som de mar, depois de passar por todos esses estágios, chega aos seus ouvidos como um chiado agudo que penetra no fundo do seu ouvido. É o som daqueles apitos que deixam os cachorros completamente alucinados, só que adaptado ao ser humano.

Pode ser até que o bebê durma. Mas você não vai dormir.

Se ainda assim você insiste em usar som de mar, procure um que tenha vendedores de mate, pelo menos.

Leve uma boia para a cama (foto: unsplash)

AR CONDICIONADO:

Uma alternativa pouco sustentável. Vamos imaginar um cenário onde todos os pais de bebês liguem o ar condicionado para fazê-los dormir, ao mesmo tempo. Em menos de duas horas, já estaríamos enfrentando racionamento de energia e os gases liberados pelos aparelhos acelerariam o aquecimento global de modo que o bolo de sorvete do primeiro aniversário da sua filha derreteria rapidamente, causando grande frustração entre todas as crianças da festa.

Além do mais, é esse tipo de mundo que você quer deixar para as crianças? Talvez seja, desde que elas durmam pelo menos uma noite inteira.

Entrando no quarto do bebê, no inverno (foto: unsplash)

SOM DE ÚTERO:

A tese do som de útero é que transporta o bebê novamente para dentro da barriga da mãe. Só que agora, sem estar em um lugar quentinho, seguro e com alimentação garantida 24 horas por dia – tudo que resta aqui é mesmo o som abafado e opressor que ele ou ela escutava sem fazer ideia do que estava acontecendo do lado fora.

Mas o pior aqui é que você vai se pegar com um pensamento extremamente desconfortável: como é que gravaram esse negócio?

“Silêncio no estúdio, gravando!” (foto: unsplash)


MÚSICA EM LOOP:

Não é exatamente ruído branco. E é a única coisa capaz de enlouquecer um pai com mais eficácia do que dois anos de noites mal dormidas.

Aqui, você tem duas opções: deixar uma música infantil que você já odeia repetindo incessantemente; ou colocar qualquer música mais suave que você gosta e, assim, passar a odiá-la para todo o sempre.

Se você quiser mesmo tentar a música em loop, tente uma polca. Polca nunca é demais. Aqui abaixo, você tem dez horas de polca para o seu bebê dormir como um anjinho de lederhosen:

E ainda dá pra cantar “Ein Prosit! Ein Prosit!” na hora do mamá (foto: unsplash)

EXAUSTOR DE COZINHA:

Já ouvimos relatos sobre um bebê que só conseguia dormir com o exaustor da cozinha ligado. Se quiser tentar, vai em frente.

A desvantagem é que, além de arrumar espaço pro berço, você vai ter que pintar as paredes da cozinha com temas do tipo “estrelinhas” ou “unicórnios”. Também deve grudar bastante gordura no móbile de bichinhos do zoo.

O lado bom é que, enquanto o bebê dorme, você pode passar a madrugada fritando deliciosos bolinhos de arroz. Tem uma receita da Rita Lobo aqui:

Estes são apenas alguns dos sons que testamos para fazer a Ceci dormir. Existem muitos outros, como chuva (geralmente acompanhada de trovões fortíssimos), vento (que vai acabar lembrando a música do Biquíni Cavadão) e palestra de coach.

Você já experimentou algum? Funcionou? Conta aí nos comentários, se você ainda conseguir digitar depois de mais uma noite mal dormida.

Livro da semana: sem título

O livro da semana segue a tradição de importantes obras como o álbum branco dos Beatles e os quadros do Jackson Pollock: ele não tem título.

Nos círculos literários e acadêmicos, ele é mais conhecido como “O Livro de Banheiro com o Ursinho na Capa”.

“O Livro de Banheira com o Ursinho na Capa”, autoria desconhecida

O autor ou autora escolheu também não colocar seu nome no livro. E há muita polêmica em torno de sua real identidade. Muitos acreditam ser o lendário livro não-assinado de José Saramago. Outros acham que foi um jeito que foi um jeito que Tolstói encontrou de burlar seu contrato com sua editora na época.

A teoria mais aceita, no entanto, é que seja um livro de Fernando Pessoa – e que ele só não conseguiu pensar em nenhum heterônimo pra assinar a obra.

Mas vamos ao livro propriamente dito.

!!!ALERTA DE SPOILER!!!

Se você não quer estragar a total apreciação da leitura, talvez valha a pena parar de ler esta resenha agora. Como a minha proposta é fazer uma análise profunda da obra, eu vou ter que revelar as grandes reviravoltas que o texto apresenta.

O livro ousa, mesclando poesia e prosa, para fazer um retrato pungente da pisquê de um ursinho que adora ir no rio brincar – e de como ele encara o vazio que sentimos diante da imensidão do cosmos.

Já de cara, descobrimos que o ursinho adora brincar no rio. Como Osório Duque-Estrada, o autor ou autora também inverte a ordem das palavras pra facilitar a rima. O texto já se mostra experimental quando, na frase seguinte, subverte as regras de pontuação, emendando a frase “muito bem ele sabe nadar”. É uma obra de leitura complexa, que não presta reverência às normas estabelecidas, esticando as possibilidades e buscando um novo linguajar. Como um James Joyce twitteiro.

Rapidamente, deixamos de acompanhar a vida do ursinho (seus pensamentos, seus anseios), numa demonstração da transitoriedade de tudo – e nos lembrando que nunca seremos protagonistas da Grande Peça do Cosmos. Nosso pensamento viaja além, mostrando a insignificância do eu na pessoa do ursinho, quando descobrimos outros animais.

Começamos pelo peixinho que gosta muito de saltar, insatisfeito com a sua condição subaquática, uma cruel limitação imposta pela natureza, contra a qual podemos lutar, mas jamais vencer.

Enquanto isso, a rã apenas observa, acompanhando o espetáculo. É um clássico personagem shakesperiano, cuja função dramática é dar uma visão de fora da história, com uma sabedoria que o ursinho, o cisne ou o peixinho jamais conseguiriam alcançar.

Chegamos agora ao momento-chave do livro. Poderiam ser observações pueris: o esquilo salta (exatamente como o peixe, embora com motivações diferentes) e a raposa quer brincar. Mas o capítulo ganha fortes pretensões literárias quando o autor ou autora abre mão das rimas. Aqui, o texto deixa claro: não há poesia que resista ao tempo. Ou talvez tenham esgotado as rimas terminadas em “ar” no dicionário do autor ou autora.

O grande mérito do livro é que trata-se de uma obra que incomoda, tira a gente da apatia, do lugar de repouso. O texto fecha de maneira enigmática, deixando várias questões em aberto: conseguirá o ursinho brincar no rio? Irá o peixinho morrer sem poder respirar fora d’água, tal qual um Ícaro escamado? E a raposa? Ela vai fazer amigos ou seguirá vagando solitária, mesmo em meio a uma multidão de esquilos, sapos e cisnes?

Tudo que o livro diz, no final, para essas questões é:

Flap! Flap!

Mais do que uma distração para o bebê na banheira, a obra é uma ótima introdução ao niilismo.

Como Limpar a Lambança do Bebê

Prontos para limpar o trocador (foto: unsplash)

Cadeirão, carrinho, trocador, tudo do bebê vem com a mesma instrução: “lave com um pano levemente umedecido”.

Lavar qualquer coisa de um bebê com um paninho levemente umedecido equivale a querer parar Chernobyl com, por exemplo, um paninho levemente umedecido.

Isso me faz pensar se os fabricantes de coisas de bebê já viram um bebê de verdade.

Talvez eles façam os testes naqueles bonecos de bebês realistas bizarros. Mas um boneco de bebê realista nunca vai ser realista o suficiente se estiver limpo.

Boneco de bebê realista bizarro (foto: unsplash)

Você pode ser um pai inexperiente. Mas tem uma coisa que você aprende bem rápido: bebês fazem uma zona.

De repente, tem caquinha em todo canto.

Quando o bebê começa a comer, tem também comida em todo canto: banana amassada, espinafre, abacate, feijão, lagostins (você lembra de ter dado lagostins pro bebê?) e algum negócio que você não tem muita certeza se é comida, tudo espalhado pelas coisas do bebê.

E, claro, a caquinha fica mais fedorenta. Tecnicamente, nem dá pra chamar mais de caquinha.

Se um pedaço de pano levemente umedecido fosse o suficiente pra limpar essa zona toda, a gente não precisaria de aterros sanitários. Era só passar um paninho levemente umedecido no lixão e pronto.

Todo mundo que tem um bebê em casa sabe que a única coisa que pode limpar direito o cadeirão de um bebê é um pano muito umedecido, pingando, encharcado mesmo, de soda cáustica.

Mas você não mais poder colocar um bebê no cadeirão depois.

Limpando a cadeirinha do carro (foto: unsplash)

Portanto, se você quer as coisas do bebê realmente limpas, a melhor saída é jogar o cadeirão sujo fora e comprar um novo para cada refeição. Se o cardápio incluir purê de batata, aí é mais jogo abandonar o apartamento e ir morar em outro lugar.