Ser Pai É Difícil Pra Carambola

E não pode falar palavrão.

Uma das maneiras de deixar seu legado para a humanidade, com a vantagem de não precisar fazer
lavagem nasal no seu legado com ele gritando “não quer fazer xô meleca! não quer fazer xô meleca!”

Não escrevo desde o ano passado, mas você que é pai sabe bem a razão dessa pausa. É que criar uma filha, trabalhar, ter um blog e ir ao banheiro regularmente não é moleza. Eu ia ter que abrir mão de uma dessas coisas. Escolhi abandonar este blog porque é provavelmente menos desconfortável do que fazer uma colostomia.

Sobrou, então, criar uma filha, trabalhar e ir ao banheiro regularmente. E equilibrar essas três coisas já é uma tarefa complicada o bastante.

Vou ser perigosamente honesto aqui. Sabe aquele papo de “quando você é pai, aprende habilidades que tornam você um profissional melhor?” A não ser que o seu trabalho envolva habilidades como “ficar completamente desnorteado”, isso é uma grande balela.

Não estou reclamando do fato de ser pai, de maneira alguma. Eu gosto muito de ser pai. O mesmo tanto que alguém pode gostar, por exemplo, do futebol com os amigos na quinta-feira. O problema é quando a sua filha entra numas de não querer ir para a escola, tomar banho, dormir ou usar qualquer roupa numa noite em que o termômetro da babá eletrônica está marcando 8 graus. Isso equivale a ficar levando carrinho maldoso no futebol de quinta-feira. E também a qualquer momento da semana, com certa preferência pelas manhãs de segunda e as mais aleatórias madrugadas.

Você está relaxado, depois de um agradável dia de domingo, tudo correndo bem. Até que, às onze e meia da noite, o beque do time de futebol de quinta-feira aparece inesperadamente na sua casa dando um carrinho em você. Nesse caso, o beque do time é a sua filha exigindo quer que você faça o sol nascer imediatamente. E aos gritos, numa interpretação meio Linda Blair.

Ainda assim, ser pai é um trabalho importante e precisa ser feito.

Mesmo do ponto de vista capitalista/produtivo: se não seguíssemos colocando gente no mundo geração após geração, quem faria a economia girar comprando tamagochis, spin fidgets e ingressos para o BTS?

Ser pai é uma missão. O ser humano, como qualquer espécie, tem toda uma programação genética para querer se replicar por aí, povoando o mundo. E foi a intensa dedicação a isso que fez com que a gente dominasse o planeta, deixando-o mais confortável para nós mesmos. Ainda que, no processo, tenhamos destruído o meio ambiente, promovido guerras terríveis e construído a casa do Gusttavo Lima.

Isso tudo, aliás, só reforça a importância do trabalho de um pai. Se tivéssemos criado pessoas melhores na história da humanidade, provavelmente não teríamos construído a casa do Gusttavo Lima.

(Ainda que o pai do Gusttavo Lima tenha sido extremamente atencioso e esforçado e o filho tenha um gosto duvidoso para a arquitetura por acidente de percurso, dificilmente um outro pai atencioso e esforçado teria criado o arquiteto disposto a desenhar a casa do Gusttavo Lima. Alguém deve ter errado nesse meio do caminho.)

Precisamos criar pessoas melhores, sempre. E pra isso, precisamos de pais dedicados. E mães e avós e tios e irmãos, claro, mas o assunto aqui no blog é paternidade, o que é importante esclarecer para evitar comentários raivosos, apesar de eu suspeitar que ninguém leia este blog com tanto afinco a ponto de querer escrever comentários raivosos.

O que estou dizendo e o que a sociedade precisa muito entender é: ser pai é importante pra caramba para a humanidade. E como tudo que é importante pra caramba para a humanidade, exige dedicação. Como o Moisés de Michelangelo.

Diz a história completa que, quando Michelangelo disse “parla!” para sua escultura de Moisés, ele respondeu gritando “não quer parlar!”

4 comentários em “Ser Pai É Difícil Pra Carambola

  1. Caríssimo,

    Sem redundantes delongas elogiando a qualidade, o humor e a inteligência de seus escritos, queria pedir uma gentileza: pode me contar onde achar seus textos mais antigos, dentre eles o meu favorito que é o que fala da quadrilha especializada em roubo de fitas VHS das locadoras? De resto, seja forte e continue exercendo a paternidade com leveza, apesar dos momentos cruentos e insólitos que esse exercício nos proporciona. 2022 vai acabar, creia.

    Forte abraço,

    Sergio Zilbersztejn

  2. Olá, Sergio!

    Seu comentário me fez passar por algumas etapas.

    Primeiro, fiquei feliz: alguém lê, gosta e lembra dos meus textos!

    Depois, fiquei surpreso: alguém lê, gosta e lembra dos meus textos?

    E, finalmente, fiquei desmemoriado: não faço ideia de qual é esse texto da quadrilha que rouba fitas de VHS. Ou talvez eu lembre, mas ache melhor fingir que esqueci, pra não ficar na mira deles. Os métodos dessa quadrilha, ouvi dizer, são bem cruéis.

    De verdade, não tenho mais nenhum dos textos. Apaguei o blog antigo num momento de desapego. Nunca imaginei que alguém poderia querer reler. Se soubesse, teria guardado. Não lembro bem nem o endereço. Cheguei a buscar aqui “daniell.blogspot.com” (acho que já foi esse, algum dia). Lá só dizia: “Sou uma pessoa munto (sic) legal” e “oi pra vcs eu sou daniell eu quero te dizer que esse é meu blog”.

    Achei muito interessante encontrar isso, principalmente por se tratar de outro Daniell com dois Ls. Ou talvez tenha sido eu mesmo que escrevi isso, não sei. Mas o fato é que não encontrei lá o texto da quadrilha que rouba fitas VHS.

    Prometo que vou continuar procurando aqui e, se encontrar, te aviso. E aviso também a polícia porque alguém precisa parar esses caras.

    Abraço!
    Daniell

  3. Oi, Fabiano!

    É uma dica válida. Posso tentar.

    Mas o momento do banheiro eu normalmente uso para ensaiar a Sonata para Viola da Gamba e Cravo em Sol Menor, BWV 1029 de Bach. Obviamente, eu ensaio a parte da viola da gamba.

    Talvez dê pra eu tocar viola da gamba enquanto dito o texto para o reconhecimento de voz do celular. Ou talvez eu já esteja fazendo isso e esta seja a explicação para eu escrever essas coisas que escrevo.

Deixe um comentário